Tese busca valorização do trabalho das mulheres de tradicionais famílias rurais
Os municípios de Nova Venécia e de Rio Bananal, no norte do Espírito Santo, foram os escolhidos para realização de uma tese de doutorado que identificou os efeitos do acesso ao crédito Pronaf por mulheres agricultoras. O objetivo foi levantar questões como, empoderamento econômico, social, político e a influência da ação de Assistência Técnica e da Extensão Rural (Ater) no durante todo este processo.
Sob o título “O Pronaf como meio de empoderamento econômico da mulher rural – uma análise da participação feminina e da influência da mediação no Estado do Espírito Santo”, a pesquisa foi realizada durante os anos de 2016 e 2017, na Universidade Estadual Norte Fluminense Darci Ribeiro (UENF).
“Existe uma necessidade de consciência de gênero para o meio rural. Se não levarmos a fundo o significado de igualdade e justiça social, não podemos falar em mediação para o desenvolvimento”, afirmou a doutoranda responsável, a veterinária e extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Alessandra Maria da Silva.
Ela explica que o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) apresenta como um de seus propósitos o financiamento agropecuário para ampliar a produção e renda das famílias e, no caso das mulheres, o programa prevê priorização desse público, como forma de favorecer o desenvolvimento da sua autonomia.
Ao longo da pesquisa, foram identificadas 265 mulheres tomadoras de crédito Pronaf entre os anos de 2013 a 2016. Calculou-se uma amostra representativa de 55 mulheres, que foi submetida a um roteiro de entrevista semiestruturada, abordando, entre outras questões, as relações familiares, o processo decisório, a experiência com o Pronaf e os fatores de mudança. Foram entrevistados, também, 30 mediadores diretos, entre extensionistas rurais, consultores e agentes bancários, quanto ao processo de elaboração dos projetos de crédito, de assistência técnica e o papel da mediação, além de cinco lideranças de organizações rurais, entre eles, sindicatos, cooperativas e representantes do Movimento de Mulheres Camponesas.
“A divisão sexual do trabalho estabelecida na organização tradicional das famílias rurais reserva o trabalho na atividade agrícola comercial ao homem, e às mulheres os trabalhos domésticos e do entorno, considerados como ajuda e sem remuneração, sendo invisíveis aos olhos da família e da sociedade”, explicou.
Segundo Alessandra, a maioria das mulheres não acessou o Pronaf com o propósito de financiamento da atividade de sua escolha, mas para atender à uma necessidade do homem, que se manteve como gestor da atividade e da renda. Ela explicou que as mulheres que apresentaram total autonomia são aquelas que não possuem companheiro e não convivem com homens na família, ou seja, a mediação direta não se envolve com as questões de gênero, se responsabilizando apenas pela operacionalização do crédito, para atividades tradicionais e dentro da visão produtivista.
De acordo com a extensionista, até os dias de hoje, as mulheres atingiram apenas 16% dos valores acessados no Pronaf, o que é diferente do número de projetos, que neste caso, já atingiu os 30% de financiamentos previstos pelo programa.
“As lideranças das organizações sociais não se envolvem com o Pronaf. Portanto, o desenvolvimento de atividades não agrícolas contribuiu para o aumento da autonomia financeira das mulheres, mas o empoderamento econômico, social e político ainda ficaram prejudicados pelas relações desiguais de gênero presentes nas famílias e na própria sociedade, incluindo a ação dos mediadores”, lembrou.
Texto: Tatiana Caus/Jornalista – Gerência de Transferência de Tecnologia e Conhecimento (GTTC).
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